O Dia das Bruxas

            Motivada pela data, posto hoje uma crônica, que é uma história real. 

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Morávamos na fazenda numa época em que a luz elétrica ainda não tinha chegado por lá. Nossa diversão era ouvir as histórias que minha irmã mais velha contava todas as noites, algumas apaixonantes, outras assustadoras.

            Era de tarde. Minha mãe saíra com as vizinhas para o pasto, pra buscar lenha e algumas frutas do cerrado, levou junto os meninos, para ajudar no transporte. Ficamos em casa as três irmãs.

            A mais velha nos convidou “Vamos assustar os meninos? Nos fantasiamos de bruxas e quando eles chegarem atendemos a porta e eles vão se borrar de medo”. Idéia maravilhosa, ainda mais para nós, as menores, que vivíamos na desvantagem com eles.

            Assim fizemos, soltamos os cabelos (imagina os cabelos das meninas criadas na fazenda? Crespos, que soltos viravam uma arapuca), deixamos eles bem armados, colocamos roupas velhas rasgadas. Ela fez uma pasta de abacate com farinha, meio grossa, que passou em nossos rostos, ficando com aparência de verrugas e verde (!), assustadoras.

            Fechamos toda a casa, para deixar claro que não tinha ninguém. Ficamos com as vassouras nas mãos (as de palha, de varrer o terreiro).

            Eis que ouvimos os meninos chegando, sempre uma algazarra, vinham na frente, pra “chegar primeiro” que a mãe. Estávamos lá na sala, com as portas trancadas e vassouras nas mãos.

            Bateram uma, duas, três vezes, e já começavam a gritar quando aparecemos, a mais velha na frente disse, disfarçando a voz “aqui não mora nenhuma pessoa com esse nome, mas vamos entrar meninos gordinhos”. Em seguida aparecemos as outras duas, rindo fino e com as vassouras na mão.

            Eles se assustaram tanto que largaram tudo o que carregavam e voltaram correndo para o local de onde vinha nossa mãe. Não queriam mais voltar porque as bruxas tinham se apoderado da casa. Lá estava parecendo a casa da bruxa do João e Maria.

            Minha mãe demorou a entender, porque achou que tinha uma cobra ou outro bicho lá na casa, quando chegou estávamos em cólicas de tanto rir deles. Levamos uma bronca, mas foi um dia muito divertido da minha infância.